Sentindo as cores / Feeling colors

Sentindo as cores / Feeling colors

06.04.2023 | Materiais/Materials

Nos tempos modernos nossa relação com os materiais é baseada em fatores, que embora sejam importantes, talvez nos façam desenvolver uma percepção um pouco simplória de sua influência em nossos processos. Às vezes pode ser necessário ir além do gosto ou não gosto.

Cada vez mais eu vejo que o material precisa ser uma continuidade do corpo, uma extensão de sua matéria para ser utilizado em um trabalho expressivo. É preciso criar uma certa intimidade com ele. Saber o que esperar dele…

Desse sentimento aparece aquele pincel maravilhoso que se torna inseparável ou muito pertinente para quase tudo que se faz na pintura, aquele godê em que a tinta parece correr e se misturar de uma forma mais gostosa e aquele papel que parece ser o melhor do mundo. 

O material de pintura é encantador por si só. Conheço artistas que mais compram e colecionam materiais do que pintam efetivamente, como que enfeitiçados por esse encanto. Ou outros que se dedicam a conhecer as marcas e diferenças entre elas, adquirindo opiniões muito fortes sobre o que é bom e o que não é.

Mas, acho que em algum momento, é interessante sentir o material para além do rótulo e do preço. E buscar um pouco da alquimia que faz desses materiais algo tão desejável e prazeroso de se interagir. 


In modern times, our relationship with materials is based on factors that, although are important, may make us develop a somewhat simplistic perception of their influence on our processes. Sometimes it may be necessary to go beyond likes or dislikes.

More and more I see that the material needs to be a continuity of the body, an extension of its matter to be used in an expressive work. You have to create a certain intimacy with it. Know what to expect from it…

From this feeling comes that wonderful brush that becomes inseparable or very pertinent to almost everything that is done in painting, that mixing bowl in which the paint seems to run and mix in a more pleasant way, and that paper that seems to be the best in the world.

The painting material is charming in itself. I know artists who buy and collect materials more than they actually paint, as if enchanted by this spell. There are others who dedicate themselves to knowing the brands and the differences among them, acquiring very strong opinions about what is good and what is not.

But, I think that at some point, it’s interesting to feel the material beyond the label and the price. And look for a bit of the alchemy that makes these materials so desirable and pleasurable to interact with.

Influenciado pelos antigos mestres que compravam ou descobriam seus pigmentos e produziam suas próprias tintas, decidi fazer uma experiência de exploração desse universo e tirei alguns dias das férias para entrar nesse mundo.

Com essa experiência, além de sentir um processo muito completo do que é pintar, visto que eu estava intervindo na própria matéria da pintura, achei interessante constatar a complexidade do processo que está por trás do nosso trabalho. Desde os artesãos novos e antigos que fazem as tintas ali na moleta de vidro, ou mesmo as grandes indústrias que suprem o mundo com tubos e pastilhas, essa brincadeira me fez valorizar o trabalho de pesquisa e desenvolvimento desses fabricantes que precisam criar métodos e estabelecer padrões muito sutis em suas rotinas de criação, manuseio e produção.

Cada pigmento tem sua característica de cobertura, granulação, resistência, densidade e até toxicidade…Percebi que é quase impossível estabelecer uma receita que sirva para todos eles, ou até mesmo para grupos de pigmentos. Cada um precisa de uma observação individual e atenta de seu comportamento desde e a moagem até a mistura e secagem final. E mesmo que tudo pareça perfeito em todo o processo, é só quando se usa o produto em uma pintura que é possível sentir o que deu certo e o que não.


Influenced by the old masters who bought or discovered their pigments and produced their own paints, I decided to experiment on exploring this universe and took a few days off from vacation to enter this world.

With this experience, in addition to feeling a very complete process of what painting is, since I was intervening in the very matter of painting, I found it interesting to see the complexity of the process that is behind our work. From the new and the old craftsmen who make the paints there in the glass muller, or even the large industries that supply the world with tubes and pans, this game made me value the research and development work of these manufacturers who need to create methods and establish standards very subtle in their creation, handling and production routines.

Each pigment has its characteristic of coverage, granulation, resistance, density and even toxicity…I realized that it is almost impossible to establish a recipe that works for all of them, or even for groups of pigments. Each one needs individual and attentive observation of its behavior from grinding to mixing and final drying. And even if everything looks perfect throughout the process, it’s only when you use the product in a painting that you can feel what worked and what didn’t.

Esse é um exercício que sugiro a todos os amantes da pintura e das cores. Além de despertar um olhar de seleção e utilidade diferenciado para sua paleta, essa experiência proporciona um sentimento interessante de estar conduzindo seu processo realmente desde o início, com a escolha e o manuseio da própria tinta.

Agradeço à querida aluna Sonia Torres por auxiliar nesse experimento e ao parceiro Diego Valdevino pelas dicas e papos sobre materiais.


This is an exercise that I suggest to all painting and color lovers. In addition to awakening a look of selection and differentiated use for your palette, this experience provides an interesting feeling of actually leading your process from the beginning, with the choice and handling of the paint itself.

Thanks to dear student Sonia Torres for helping with this experiment and to partner Diego Valdevino for tips and conversations about materials.

Renato Palmuti

Artista visual - Ilustrador - Instrutor

VEJA TAMBÉM

4
5

Pin It on Pinterest